No universo empresarial, onde gigantes corporativos costumam dominar os holofotes do mercado financeiro, é fácil imaginar que os serviços de uma auditoria independente é um privilégio reservado apenas a essas megaestruturas, seja por obrigação legal ou por oportunidades de negócios. No entanto, essa percepção está desatualizada, pois uma auditoria independente desempenha um papel igualmente vital e até transformador nas empresas com gestão familiar, aqui denominadas de middle market, quando estas buscam elevar os padrões de governança corporativa e acessar novos produtos do mercado financeiro, seja para captação de recursos ou investimentos.
Imagine uma auditoria sobre as demonstrações contábeis funciona como uma lente de aumento poderosa, capaz de proporcionar uma visão panorâmica e objetiva dos controles internos que funcionam como engrenagens no dia a dia de uma empresa. Ao conduzir os testes de auditoria, são revelados aspectos essenciais da saúde financeira, processos operacionais e conformidade regulatória. Dessa forma, gestores podem embasar suas decisões em informações sólidas, pautadas nas evidências de auditoria e aproveitando a experiencia dos profissionais que participam do processo e dessa forma, tomar medidas estratégicas com maior confiança.
Nesse mundo dinâmico do middle market, onde as empresas muitas vezes operam com restrição de recursos, a auditoria desempenha um papel crucial de identificar áreas de risco e ineficiências. Ela se torna uma bússola, apontando direções e permitindo ajustes precisos no trajeto da jornada empresarial.
Conhecer os processos detalhadamente e aprimorar os controles internos é um dos resultados mais significativos de um trabalho de auditoria independente. Ao analisar e reforçar os ambientes de controle internos existentes, a empresa se protege contra possíveis desvios, erros e falhas que poderiam comprometer sua trajetória. O investimento em um serviço deste tipo pode ajudar a cuidar dos ativos e da integridade das operações.
Embora não exista uma exigência legal para empresas que ainda não atingiram os limites para se tornar de “grande porte” e consequentemente serem obrigadas a passarem por auditorias, o investimento nesse processo é importante para acessar a oportunidades de melhores condições de crédito nas relações bancárias e de outras fontes de financiamento. Todo processo de auditoria pode contribuir com uma análise reveladora, capaz de trazer à tona os pontos fortes e fracos do negócio, fornecendo assim uma base sólida para o desenvolvimento de estratégias de crescimento e ações preventivas para riscos potenciais. Trata-se de uma ferramenta poderosa para contribuir com o gestor na tomada de decisão.
Outro fator-chave impulsionado pela auditoria é o acesso ao crédito. Quando uma empresa se submete a um trabalho de auditoria independente, demonstra para a sociedade sua responsabilidade e comprometimento com a transparência de suas atitudes e em seguir as leis e regulamentações aplicáveis. Tal compromisso com a transparência gera confiança não apenas entre os investidores, mas também entre os clientes e instituições financeiras, abrindo portas para parcerias potencialmente mais vantajosas.
Além de ser um dos principais pilares da governança corporativa, a auditoria é um cartão de visita poderoso. Ao divulgar informações financeiras e operacionais precisas e confiáveis, a empresa envia uma mensagem clara ao mercado: a transparência é parte integrante de seus valores fundamentais.
No caso de empresas interessadas em operações de combinação de negócios, como fusões, cisões e incorporações ou mesmo em ser vendida a outro grupo de investidores, a auditoria é um grande facilitador, seja na definição de valores como na transparência das informações prestadas.
Para empresas que têm planos de crescimento e, para tanto, pensam em acessar fontes de financiamento vindas da venda de suas ações no mercado de capital, a importância da auditoria é requerida, tanto na preparação quanto na condução de todo o processo, junto a Comissão de Valores Mobiliários – CVM, consultorias financeiras e bancos estruturadores dessa operação. A realização de auditoria periódica se torna uma ferramenta essencial para aprimorar a governança corporativa e fornecer confiança aos investidores potenciais.
Em primeiro lugar, para que uma empresa tenha sucesso em seus planos de expansão, é fundamental que suas bases estejam sólidas e suas informações financeiras sejam confiáveis. A auditoria desempenha um papel vital nesse contexto, garantindo que os registros contábeis estejam precisos e refletindo a realidade das operações. Isso é fundamental para atrair investidores e parceiros estratégicos, que desejam ter a certeza de que estão se associando a um empreendimento transparente e bem gerido.
À medida que a empresa cresce, a complexidade de suas operações também aumenta. Nesse cenário, a auditoria se torna um instrumento valioso para identificar possíveis pontos de vulnerabilidade e riscos inerentes ao crescimento acelerado. Ao antecipar desafios e propor melhorias nos controles internos, a auditoria se transforma em uma forte ferramenta que visa resguardar a gestão de eventuais situações que possam pôr em risco a operação.
Além disso, quando uma empresa almeja abrir seu capital, ela passa a estar sujeita a uma rotina de prestação de contas ainda mais rigorosa por parte dos órgãos reguladores e dos investidores. Nesse contexto, a existência de um histórico sólido de auditorias independentes é um diferencial competitivo importante. Empresas que já possuem essa rotina demonstram uma cultura organizacional voltada para a transparência, responsabilidade e excelência operacional - fatores altamente valorizados pelos investidores e pelo mercado de capitais.
Em suma, a auditoria é um recurso imprescindível para empresas que têm visão de futuro e buscam um crescimento sólido e sustentável. Ela oferece o respaldo necessário para que a empresa avance com confiança, aprimorando seus processos, atraindo investidores e preparando o caminho de crescimento, que pode ter como finalidade um eventual processo de oferta pública de ações (IPO – Initial Public Offering). Assim, a auditoria se revela como uma estratégia inteligente, alinhada com os anseios de crescimento e expansão no mercado empresarial.
É importante esclarecer que a auditoria não tem como papel principal investigar fraudes ou condutas criminosas. Embora o processo de auditoria envolva uma análise detalhada das informações financeiras e operacionais da empresa, o objetivo é avaliar a conformidade com os princípios contábeis, as normas regulatórias e as políticas internas. A detecção de fraudes requer uma abordagem distinta, como uma investigação forense conduzida por profissionais especializados em apurar irregularidades e possíveis práticas ilícitas.
O foco da auditoria está na análise e interpretação de documentos e registros contábeis, bem como na verificação da precisão e integridade das informações apresentadas. Caso haja indícios de fraudes ou irregularidades durante o processo de auditoria, é função do auditor relatar essas suspeitas às estruturas de controle competentes, dentro do ambiente de governança corporativa, para que possam ser conduzidas investigações apropriadas. No entanto, a tarefa primordial da auditoria permanece na avaliação da qualidade das demonstrações financeiras e do sistema de controle interno da empresa, proporcionando aos gestores, investidores e stakeholders informações confiáveis para tomadas de decisão.
Desmistificar a ideia de que a auditoria é reservada apenas para grandes corporações é essencial. No middle market, essa prática reveladora pode impulsionar o crescimento, fortalecer a governança, abrir portas para oportunidades de crédito e construir uma reputação sólida. Afinal, investir na transparência é investir no futuro, uma atitude que ajudará as empresas a colher melhores resultados, especialmente em um ambiente cada vez mais competitivo e desafiador.
*Leonardo da Silva Vilar Gomes é auditor independente a mais de 20 anos, com formação em Ciências Contábeis pela UFPE, pós graduação em Auditoria e Perícia Contábil pela FAEL – Faculdade Educacional da Lapa e sócio líder da filial de Maceió